Veja quem é a oposição de verdade....
No dia 5 de março, a reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) amanheceu sob a vigília de mais de 150 estudantes e militantes de diversos movimentos sociais. O objetivo da mobilização era impedir a realização do Conselho Universitário que, naquele último dia útil de férias letivas, tinha como pauta a apreciação do Projeto de Parque Tecnológico da UFRGS, o chamado UFRGS-Tec.
O resultado foi uma grande vitória da mobilização, que organizou piquete em todas as seis entradas do prédio da reitoria, paralisando as atividades neste dia.
Muitos integrantes, hoje da CHAPA 3, estiveram lá mobilizados por essa causa, questionando o conteúdo do projeto e a forma como a Reitoria buscou aprová-lo, no apagar das luzes de 2009, e, sem sucesso, no período de férias para evitar mobilização. Isso revela o caráter antidemocrático que tem o funcionamento da instituição, que além de diferenciar consideravelmente o peso entre os professores (70% do peso nos votos) e os outros dois setores, estudantes e servidores técnico-administrativos (cada um com 15% do peso dos votos), ainda arranja inúmeras maneiras de driblar a participação seja nos próprios conselhos, seja na mobilização direta.
Hoje teremos uma Audiência Pública sobre o Regimento do Parque Tec.
Data: 10/11 (quarta-feira)
Horário: 16 horas
Local: Auditório do Instituto de Informática – Campus do Vale
Compareça, mobilize-se!!!!
Conheça mais sobre o projeto do Parque Tecnológico da UFRGS
O projeto de Parque Tecnológico da UFRGS consiste na construção de uma grande área pública destinada à incubação de empresas que tenham interesse em desenvolver pesquisas no ramo da ciência e tecnologia de ponta, contando para isso com a mão-de-obra barata de estudantes. Toda gerência do espaço estaria em mãos de uma associação de patrões e mandados da reitoria. Além disso, o parque está previsto para ser construído em área reservada, ainda não dispondo de licença ambiental para isso, e obrigará a desocupação de famílias que habitam o local.
Membros do DCE Livre - gestão atual - com Idenir Cechin (secretário municipal de indústria e comércio) apoiador do projeto do Parque Tecnológico da Ufrgs
Marcel Van Hattem (DCE gestão atual) no dia da mobilização dos estudantes da UFRGS
A reitoria sob a orientação do governo Lula
Parques como esse estão previstos na Lei de Inovação Tecnológica nº 10973, aprovada em Dezembro de 2004 pelo presidente Lula e seu governo. Em suma, é a abertura das universidades para a iniciativa privada, coisa que já acontecia desde o início dos anos noventa com o avanço das privatizações no país, mas que, no governo Lula, aprofundou-se de uma forma que nem FHC poderia fazê-lo. Através do ProUni, ReUni e outras series de medidas governamentais no âmbito da educação, Lula extrai bandeiras históricas do movimento estudantil e dos trabalhadores, como a questão do acesso ao ensino superior, por exemplo, e faz grandes ataques passarem como se fossem vitórias. Na prática, trabalha sob os ditames dos órgãos internacionais de financiamento, FMI e Banco Mundial que pensam, arquitetam e impõem a lógica do imperialismo para o trabalho, saúde, educação etc.
No caso da Lei de Inovação Tecnológica, junto com outros projetos e entendendo a reforma universitária como um todo, é a materialização de qual deve ser a função das universidades de um país subdesenvolvido ou emergente, como o nosso: as universidades públicas devem ser grandes escolões de ensino para formar mão-de-obra barata e qualificada. Toda a produção de conhecimento, ciência e tecnologia gerada no Brasil deve ser voltada para os fins do mercado, para os interesses das multinacionais e com o pleno controle da burguesia sobre o que é desenvolvido aqui.
Ao contrário do discurso do governo, qualquer inovação tecnológica produzida em nosso país, nestes moldes, sob o domínio da classe burguesa, não proporcionará uma maior soberania, mas sim aprofundará nossa submissão, pois será, invariavelmente, utilizada para refinar nossa própria exploração.
Educação de qualidade voltada para a melhoria de vida da classe trabalhadora
Os estudantes, trabalhadores e trabalhadoras em luta, mostram, na prática, como se luta pelo desenvolvimento do país, pela real soberania. É nas greves, ocupações de reitoria, vigílias e outros tantos atos que manifestem o descontentamento com qualquer imposição ou plano velada ou descaradamente prejudicial aos nossos direitos.
Lutar pelo desenvolvimento do país significa lutar pela melhoria de vida dos trabalhadores, arrancar, nem que seja à força, os direitos e as vitórias das mãos das reitorias, governos e burguesia.
É preciso organizar a luta e derrotar os planos do governo para a educação. Conquistar democracia para que tenha, de fato, igualdade de direitos nas decisões da universidade. Lutar para que haja investimento público de verdade, de no mínimo 10% do PIB para termos uma educação decente, que tenha incentivo e investimento público para o desenvolvimento de pesquisas necessárias para elevar o nível de vida da nossa população, pesquisas que tenham responsabilidade com a preservação da nossa saúde e do meio ambiente, integridade e dignidade da classe trabalhadora.
A luta por uma educação pública, gratuita e de qualidade está nos marcos da luta de classes. As universidades cumprem uma função essencial de produção de ciência e tecnologia, e o exercício desta função deve ser em sintonia com as necessidades dos trabalhadores do campo e da cidade e não da burguesia nacional ou imperialista.
Uma aliança que tem futuro
Uma educação que esteja a serviço dos trabalhadores só pode ser conquistada com a aliança entre os estudantes e a classe trabalhadora. Aliança esta que deve ser desenvolvida e fomentada em cada momento de luta, com solidariedade mútua nas greves, piquetes, ocupações e todo tipo de mobilização. A luta do movimento estudantil tem de ser a mesma dos trabalhadores, a luta pela emancipação da sociedade e a construção do socialismo.
A vitória dos estudantes da UFRGS só foi possível através da unidade com os trabalhadores organizados e solidarizados com a pauta, pois sabiam que esta pauta também era sua. Os trabalhadores do campo, ligados à Via Campesina e MST entendiam, e entendem, que a construção do parque é um prato cheio para o agronegócio do Rio Grande do Sul e que trará ainda mais desigualdades no campo; os estudantes em luta não querem ser mão-de-obra barata para estes fins. O movimento sindical presente com a Conlutas e a Intersindical, também tomou esta bandeira e garantiu a vitória sobre o reitor e as empresas interessadas em entrar na universidade.
Esta unidade precisa se aprofundar, se desenvolver e massificar. Para conquistar, de fato, a vitória dos nossos interesses, pelo menos no que diz respeito ao Parque Tecnológico da UFRGS, é preciso não só derrotar o reitor, mas todo o plano educacional de Lula e do imperialismo. Para tanto, a unidade entre estudantes e trabalhadores do campo e da cidade é fundamental.
Nenhuma confiança na reitoria, que pode tentar uma saída negociada e enfiar todo o movimento numa sinuca de bico. Nenhuma confiança no governo Lula, que é o principal canal de controle do imperialismo sobre nosso país e é quem, de fato, orienta as ações da reitoria.
Demos provas do que podemos fazer unidos, agora é organizar a resistência pela base apostando nas mobilizações diretas. Com unidade, vencemos uma batalha e esperamos que esta vitória seja um ânimo a todos os lutadores e lutadoras que enfrentam os inimigos das diversas frentes do país.
TEXTO: Jéssica Nucci (Geografia) - Coordenação Geral
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